O resultado final das eleições com vista à escolha do Presidente da República para o mandato 2011 / 2016 foram, a nível nacional, aquilo que já há muito se adivinhava: a recondução de Cavaco Silva nessas funções. Não houve, assim, qualquer surpresa, até porque todos os presidentes têm sido, depois do 25 de Abril, reeleitos à primeira volta para o segundo mandato (Ramalho Eanes e Cavaco Silva foram-no também para o primeiro, respectivamente em 1976 e em 2006). Não sendo eu comentador ou analista político, não pretendo, nem estou interessado, nem quero perder muito tempo a tecer grandes considerações que já foram, para todos os gostos, escalpelizadas pelos especialistas do costume. Há no entanto um aspecto, que também já era previsível, para o qual não posso deixar de chamar a atenção: o galopante aumento do número de abstenções, de votos em branco e nulos.
Basta ver que, tendo Cavaco Silva tido uma votação percentual superior à de 2006, passando de 50,59% para 52,94%, o seu número total de votos baixou mais de meio milhão! Quase apetece dizer que, a ser respeitada a vontade popular, quem devia ocupar o Palácio de Belém era a D. Abstenção já que, para além de ter tido muitos mais “votos” que o presidente reeleito, ficava muito mais barata ao país, numa época em que são exigidos tantos sacrifícios, sempre aos do costume. É que esta “senhora” bateu todos os recordes para eleições deste tipo (53,57%), sendo muito bem acompanhada pelos votos em branco (4,26%) e nulos (1,9%) que, esses sim, alcançaram níveis nunca antes igualados em nenhumas eleições em Portugal! Ora isto só pode revelar muito do desencanto, da descrença, da indiferença, até mesmo da revolta dos portugueses face à sua classe política, a todos os níveis. Não pode deixar de ter grande significado que mais de 190 mil eleitores se dessem ao trabalho de se deslocar à cabine de voto e tivessem, ao votar em branco, dito aos candidatos: muito obrigado mas não quero nenhum, estou farto de vocês todos! A estes teremos ainda de acrescentar, como me parece evidente, muitos dos 86 mil que também lá foram e preferiram inutilizar o boletim de voto a escolher alguém.
Será que os senhores políticos vão entender a mensagem ou vão continuar a viver num mundo imaginário, com as suas jogatanas de poder e de bastidores reveladoras, quantas vezes, de uma total falta de vergonha, de ética, de seriedade, de justiça e até de senso comum, beneficiando sempre os mesmos entre os quais se incluem, como não podia deixar de ser, eles próprios, os seus familiares, seguidores, bajuladores, amigos de “estimação” e acólitos? Esperemos que sim antes que seja demasiado tarde.
E em Vilar de Mouros? Penso que se pode dizer que os resultados acompanharam, no global, mas com algumas e interessantes nuances, a “onda nacional”. Vejamos:
- Num total de 769 eleitores votaram 408 sendo, portanto, a abstenção de 46,9%:
Votos expressos:
- Cavaco Silva…………..181……………44,4%
- Defensor Moura…..……32…….………7,8%
- Francisco Lopes…….…43……………..10,5%
- José Coelho..…..………19……………..4,7%
- Manuel Alegre…………71………….…17,4%
- Fernando Nobre…….…62…………..…15,2%
- Em branco…………….17………..……4,3%
- Nulos……….…….……6…………..….1,5%
Embora me pareça que os número falam por si e que cada um pode fazer as interpretações que quiser, julgo interessante destacar o seguinte:
1 – Em Vilar de Mouros a D. Abstenção, embora atingindo também um máximo histórico, não ganhou, tendo sido bem inferior à média nacional (46,9% para 53,57%);
2 – A vitória de Cavaco Silva, embora importante, ficou-se pelos 44,4% o que significa que, se este resultado tivesse acontecido a nível nacional, teria de haver uma segunda volta; de referir ainda que, no concelho de Caminha, só numa freguesia este candidato teve uma percentagem inferior, em Âncora, com 44,2%;
3 – Mesmo sem se contabilizarem os 19 votos de José Coelho, os restantes opositores ao candidato apoiado pela direita e que, parece-me evidente, se situam todos à sua esquerda, somam 208 votos, o que dá mais 27 votos do que os seus 181;
4 – O candidato apoiado pelo PS, BE e MRPP, Manuel Alegre, teve uma muito baixa votação, menor que em 2006 quando, sem qualquer apoio partidário, obteve 82 votos, mais 11 do que agora; é certo que a percentagem subiu (de 15,8% para 17,4%) mas isso tem muito a ver com o grande aumento da abstenção;
5 - A votação no candidato do PCP e dos Verdes, Francisco Lopes, (43 votos e 10,5%), sendo embora muito inferior à obtida por Jerónimo de Sousa em 2006 (104 votos e 20%) e mesmo à de António Abreu em 2001 (57 votos e 13%) tem de ser vista como muito positiva se atentarmos nos seguintes factores:
- tratar-se de um candidato quase desconhecido antes destas eleições;
- a CDU ter estado na Junta, nesses dois actos eleitorais anteriores, com uma excelente dinâmica de trabalho e consequente boa imagem pública, arrastando por simpatia muitos votos para os seus candidatos da altura; hoje a autarquia é dominada pelo PSD;
- ter, apesar de tudo, conseguido nesta freguesia uma votação percentual bem superior à que obteve a nível nacional (7,14%) e ser, de longe, a maior a nível concelhio, sendo as mais próximas a de Vilarelho (6,4%) e Azevedo (6%);
6 - Fernando Nobre foi uma surpresa (???) agradável (62 votos, 15,2%, ficando a escassos 9 votos de Manuel Alegre) que beneficiou, quanto a mim, de não estar conotado com qualquer partido político, apresentando-se ao eleitorado como um homem totalmente livre, com formação médica e uma vida inteira dedicada a causas de ordem humanitária, tendo inclusivamente sido fundador e presidente da AMI – Fundação Assistência Médica Internacional;
6 - Fernando Nobre foi uma surpresa (???) agradável (62 votos, 15,2%, ficando a escassos 9 votos de Manuel Alegre) que beneficiou, quanto a mim, de não estar conotado com qualquer partido político, apresentando-se ao eleitorado como um homem totalmente livre, com formação médica e uma vida inteira dedicada a causas de ordem humanitária, tendo inclusivamente sido fundador e presidente da AMI – Fundação Assistência Médica Internacional;
7 - Não será suspresa a razoável votação em Defensor Moura, dado tratar-se de um vianense que presidiu à Câmara Municipal da sede de distrito vários anos, tendo criado uma imagem de político sério, dinâmico, competente e perseverante;
8 – Interessante também e bastante reveladora do estado a que isto chegou foi a votação no candidato madeirense José Coelho, que mais não fez do que brincar e gozar com as eleições, com tudo e com todos. Ao menos teve a sua piada.
Mais alguns dados curiosos comparativamente a outras eleições presidenciais anteriores realizadas nesta freguesia:
- Em 2006 a abstenção (31%) foi bastante inferior à actual (46,9%), embora já não tanto à de 2001 (37,8%);
- Cavaco, embora tendo agora uma percentagem (44,4%) muito superior à de 2006 (28%) teve MENOS 29 votos que então;
- Os votos brancos e nulos dispararam de 2006 para 2011; os primeiros passando de 1 para 17 e os segundos de 3 para 6.