“O largo do Casal, mais conhecido como o recinto do festival de Vilar de Mouros, vai ser transformado num parque temático de música. O projecto é da Junta de Freguesia e da Câmara de Caminha. A Presidente da Junta, Sónia Fernandes, explica que o objectivo é rentabilizar o local de forma a torná-lo utilizável durante todo o ano. A autarca de Vilar de Mouros admite que este parque temático poderá alavancar o regresso do Festival a Vilar de Mouros, que nada garante que seja já este ano. As conversações com as empresas interessadas prosseguem, garante Sónia Fernandes, mas ainda não foi escolhida aquela que já deveria estar a negociar com as grandes bandas.
Novas infra-estruturas eléctricas e a requalificação do palco do largo do casal são duas das principais a avançar para constituir este parque temático de música em Vilar de Mouros.”
O que acima escrevi é a transcrição (sic) do que consta na edição on-line da Jornal Caminhense – caminhense.com, de 10 de Fevereiro, ontem, na página “informativa” (?) que a Câmara Municipal usa regularmente naquele órgão de comunicação e paga, e bem, com o NOSSO dinheiro.
Ao ler esta informação ocorrem-me uma série de questões, dúvidas e, sobretudo, uma quase certeza: em 2011, ano em que deveria ser comemorado o 40º aniversário do mítico e inesquecível Festival de 1971 (com Elton John e Manfred Man), simplesmente…volta a não haver Festival! Mas alguém terá ainda dúvidas? A própria Presidente da Junta o reconhece quando afirma “ainda não foi escolhida aquela (empresa) que já deveria estar a negociar com as grandes bandas”. Está tudo dito! A ser feita alguma coisa não passará, seguramente, de um mini-evento sem qualquer significado e dignidade para assinalar tão importante efeméride e com o único objectivo de disfarçar mais um rotundo fracasso da política deste executivo municipal.
Sim, porque é, nem mais nem menos, o QUINTO ANO CONSECUTIVO sem que se realize o maior acontecimento mediático e musical do concelho de Caminha e o executivo camarário liderado pela actual presidente é o grande responsável por isso. Fez tudo o que esteve ao seu alcance para destruir um protocolo que previa a realização de seis edições de festival, de 2005 a 2010 e conseguiu-o logo em 2007 quando havia ainda quatro por cumprir. (http://vilardemouros-sempre.blogspot.com/2010/07/festival-de-vilar-de-mouros-2010.html ) Está, portanto, de parabéns! A culpa, claro, atribuiu-a à Junta de então, à incapacidade da empresa organizadora e ao facto de a Câmara não integrar o protocolo em vigor na altura (resolvido em Abril de 2009).
Então agora, com tudo nas mãos e uma junta da mesma cor apetece perguntar por que diabo não é possível pôr de novo em pé tão importante acontecimento? Não o foi em 2010 e também não o será em 2011?
Como se pode entender que uma pequena Junta tenha sido capaz, sozinha, sem ajudas de qualquer entidade, de enfrentar todas as dificuldades e reerguer, em 1999, um tão importante evento (que obrigou, por exemplo, à necessidade de aquisição de todos os terrenos da Chousa - cerca de 5 hectares… hoje propriedade da freguesia), conseguindo ainda significativos benefícios materiais para a terra e hoje, Câmara e Junta, em parceria, não sejam capazes de criar as condições mínimas, com tanto trabalho prévio já desbravado, para a retoma do festival?! Sinceramente, isto ultrapassa toda a minha capacidade de compreensão. Será também culpa da crise (tem as costas largas)?
Duvido, porque para este tipo de eventos há sempre uns tostõezinhos que se põem de lado e muitos outros de bem menor prestígio que o de Vilar de Mouros vão sendo realizados com enorme sucesso. Então o que leva ao arrastamento das negociações e ao evidente retraimento das empresas que ainda há bem pouco estavam dispostas a pagar, e bem, para poderem realizar o festival? Só vejo, mesmo, uma razão: é que gato escaldado a água fria tem medo e os eventuais interessados, conhecedores como são do que aconteceu com as últimas edições efectuadas, em que a atitude camarária foi muito mais de bloqueio do que de apoio, terão receio de se aventurarem num protocolo que vá para além de 2013 (e estas coisas dificilmente se fazem só por um ano ou dois) porque aí ocorrerão outra vez eleições autárquicas e a possibilidade de uma eventual derrota do PSD para a junta, mantendo-se a mesma força política no município, traz fatalmente à memória de todos cenas tristes de um filme de terror já visto.
Ora estas organizações arriscam muito dinheiro e não gostam, como é natural, de se meter em aventuras que envolvam riscos de guerrilhas inadmissíveis em democracia mas que são, infelizmente, recorrentes no concelho Caminha. E que pensarão de tudo isto os vilarmourenses em particular, sobretudo os jovens, e os caminhenses em geral, em especial aqueles que mais têm a perder com o arrastar interminável desta situação?
Não sei mas, para se animarem um pouco, há uma coisa que eu quase posso garantir: é que, se não for antes, em 2013 pelo menos, a Sra Presidente da Câmara e o poder executivo concelhio do PSD vão esquecer-se de que “o Festival é um negócio”, como a primeira afirmou em Assembleia Municipal de Dezembro último, abrirão os cordões à (nossa) bolsa e avançarão sem hesitações para um grande festival! Ah pois, em períodos pré-eleitorais dinheiro é o que nunca falta! Aceitam-se apostas!
Deixando o festival de lado, outras questões me são levantadas por esta “informação municipal” como, por exemplo:
- qual o real significado da bela expressão “parque temático de música”? Será que por detrás dela mais não se encontra do que a intenção de proceder a umas obrazitas de fachada, servindo a escolha deste bonito nome apenas como paliativo para aliviar as dores da constatação de que não vai haver Festival 2011?
- sendo indesmentível que o palco justifica, desde há muito, obras de vulto (basta ver as fotografias (clicar para ampliar) do estado de degradação a que chegou, com a chuva a entrar por tudo quanto é sítio, para além dos inevitáveis estragos provocados pelas águas das enchentes), sabe-se pouco ou nada do que vai, realmente, ser feito.
Existe algum projecto de requalificação do palco e, no essencial, em que consiste? Está prevista a protecção contra a invasão das águas em cheias futuras?
- quando se diz que “o largo do Casal, mais conhecido como o recinto do Festival de Vilar de Mouros” quer-se também dizer que eventuais futuros festivais se restringirão apenas ao Largo do Casal, como na versão inicial, ficando de fora todo o imenso Largo Dr. António Barge?
- como é público, foi celebrado um protocolo tripartido, em 2008, entre Câmara, Junta e Grupo Motard, onde se consubstancia a cedência, julgo que por um período de 30 anos, a esta associação vilarmourense, do palco do Casal e seus anexos; esse protocolo prevê mesmo a construção, a fazer pelo grupo, de um andar por cima do actual bar, para servir de sede e base de apoio às suas actividades culturais e recreativas; pergunta-se: o protocolo é mesmo para cumprir e, em caso afirmativo, como se vai poder conciliar a execução de obras no mesmo edifício por duas entidades diferentes, com a agravante de uma ser pública e outra privada?
A concluir quero deixar bem claro que não é minha intenção, minimamente, beliscar o papel da Junta de Freguesia em todo este processo e muito menos o da sua presidente, pessoa cujo comportamento sempre mereceu, antes e depois de ser eleita, a minha consideração e respeito. O problema está, como digo há muito e eu não mudo de opinião quando desempenho cargos ou estou fora deles, na total falta de recursos e competências das juntas, em contraponto com outros poderes que gastam, a seu bel prazer, o que têm e o que não têm, hipotecando o futuro das gerações seguintes ao sabor de interesses conjunturais, de grupos, de clientelas e de estratégias eleitoralistas. Depois dizem-se muito preocupados com a elevada abstenção, sobretudo nas camadas mais jovens!
INCAPACIDADE DE REALIZAR O FESTIVAL
ResponderEliminarOportuno, ajustado, muito bem fundamentado e ilustrado é como classifico mais este belíssimo trabalho do Basílio sobre a mais que provável não realização do Festival também em 2011 e publicitado parque temático no Largo do Casal.
PARABÉNS BASILIO
carlos alves
Ao ler a notícia da apetência construção do parque temático no casal, fiquei surpreendido pelo facto de, como o Basílio refere, existir um protocolo (acordo) com o Grupo Motar, de cedência daquele espaço, para a construção da sede do grupo. Como já estamos habituados ao não cumprimento dos acordos, esperemos para ver quem fica a ver navios, porque as duas coisas não são compatíveis, uma de interesse pública, outra com interesses privados. Contudo, o casal foi e será sempre propriedade dos Vilarmourenses e de quem gosta de Vilar de Mouros. Quanto ao festival e a sua (falta) realização, penso que este tipo de evento exige, além de vontade politica, pessoas nos bastidores com maturidade, experiencia e responsabilidade. Sem estes ingredientes, nada feito!
ResponderEliminarMuito bem. O teu artigo lavou-me a alma. Quando soube desta novidade comentei: "já arranjaram uma maneira de justificar mais um adiamento do Festival", como eles dizem "mítico", pois já foi, e nunca o será enquanto tivermos gente como esta, que se servem de promessas para conseguirem o poder e depois se escusam com desculpas esfarrapadas, para fugirem às responsabilidades, para com aqueles que os puseram no poleiro. Isto é uma vergonha.
ResponderEliminarSempre atento Basilio.Quanto à não realização do festival já todos sabemos que não temos pessoas qualificadas para tão grande invento.Mas também não podemos pedir mais do que que aquilo que nos tem para dar.(nada)
ResponderEliminarNão é bem falta de qualificação...é mais grave que isso! É (ou foi...)falta de seriedade política e agora estão a ser enredados na teia que eles próprios (município) criaram! Que sejam muito felizes e vão embora do poleiro o mais rápido possível é o que eu desejo!
ResponderEliminarBom... parabéns mais uma vez pelo artigo. quanto ao conteúdo parece-me lamentável que se continue a não privilegiar aquilo que já faz parte do património cultural, não apenas de uma localidade, de uma zona, como também de um país.
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