VILAR DE MOUROS SEMPRE

Blogue que visa a promoção e divulgação de Vilar de Mouros, sua cultura, seus interesses, necessidades, realizações e suas gentes, mas que poderá abordar também outros temas, de ordem local, regional ou mesmo nacional.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

FESTIVAL 82 – 30 anos passados

Reavivando a memória e celebrando com um piquenique

 O Faro de Vigo, prestigiado periódico galego muito lido em Portugal, pelo menos em todo o alto-minho, publicou, recentemente, uma notícia assinalando a passagem do trigésimo aniversário da atuação do U2 em Vilar de Mouros, precisamente no dia 3 de Agosto de 1982. Na imagem que junto, digitalizada desse jornal, pode ver-se, para além de uma fotografia tirada no palco do Casal onde aparecem, em pleno concerto, dois dos seus músicos, Bono e Adam Clayton, um texto redigido em castelhano que me dispenso de transcrever ou traduzir por me parecer perfeitamente entendível (clicando na foto) dadas as muitas semelhanças entre a nossa e aquela língua. Limito-me a chamar a atenção para alguns pontos que julgo oportuno destacar:

1 – Logo no início pode ler-se (e passo a traduzir) “Parece impossível mas U2 atuou em Vilar de Mouros, uma minúscula freguesia de Caminha…”;

2 – Refere que isto só foi possível “graças à dedicação de um filantropo português”, sem dizer o nome, mas que todos conhecemos: o saudoso Dr. António Barge;

3 – Diz que “na dita aldeia atuaram naquele verão grupos da categoria de The Stranglers, Echo & The Bunnymen e Durutti Column” além dos dublinenses;

4 – Termina escrevendo que “passou mais de uma década até que U2 voltassem a Portugal…em 1993”.

Palco do Casal, construído de propósito, onde atuaram os U2 em 1982
Que bom que a imprensa estrangeira reconheça a Vilar de Mouros e ao seu festival a importância que, com toda a justiça, lhe é devida, não só para esta pequena aldeia como para todo o concelho e região alto-minhota. Que bom que, embora sem lhe citar o nome, se recorde o papel preponderante do “filantropo”, como aí é designado o médico António Augusto Barge, não propriamente no festival de 1982 que, como se sabe, foi organizado pela Câmara Municipal de Caminha, mas por ter sido o “pai” e único responsável pelas edições anteriores, com especial destaque para 1971 que teve, como nomes mais sonantes, os de Elton John (dia 8 de Agosto) e Manfred Man (dia 7).
Elton John em ação, em 1971, em Vilar de Mouros

Regista-se, assim, que há duas importantes efemérides a assinalar:

- faz este ano três décadas que teve lugar o Festival de 1982;
- fez o ano passado quatro décadas sobre o primeiro grande Festival de Vilar de Mouros, em 1971, por muitos considerado o “woodstock” português.

Que duas excelentes oportunidades para recordar e retomar as edições interrompidas em 2007! Que fez o município? Nada. Provavelmente distraiu-se e passou-lhe ao lado. Até nem foram anos de eleições…quem sabe se para o próximo?! Em 2011 ainda apoiou um “Festival em Vilar de Mouros” (designação, no mínimo, curiosa) que mais não foi que uma espécie de “beach party” em que a areia foi substituída pela erva dos largos do Casal e da Chousa  e o mar pelas casas dos habitantes do vale do Coura, massacrados durante cerca de 18 horas consecutivas, incluindo toda uma noite de domingo para segunda-feira, por decibéis eletrónico-eufóricos, misturados com o ribombar de trovões (estes...reais!). Em 2012, nada mesmo.

Murais pintados no exterior dos sanitários, em 2011

Demolir é fácil, reerguer...nem tanto 

Como se compreende uma coisa destas? Um festival que levou tantos anos a erguer, que teve três únicas edições em 25 anos (entre 1971 e 1996) e que parecia ter entrado, finalmente, a partir de 1999, após longas lutas e alguns tropeços, no circuito comercial dos festivais anuais de verão, com a realização de oito edições consecutivas, promovendo o concelho e a região, teve no poder municipal, não o aliado que seria normal que tivesse mas antes um autêntico “amigo da onça”, com declarações públicas de apoio e comportamentos privados (mas não muito) de evidente hostilização. O que é certo é que o festival ruiu com estrondo, não se faz há seis anos e não se vislumbra luz ao fundo do túnel. Então a pergunta surge, com naturalidade: afinal, uma presidente de câmara que atribuiu à incapacidade da empresa organizadora e da junta de então o fracasso do modelo anterior de festival não é, agora que tem todos os cordelinhos na mão, capaz de o reativar e moldar a seu gosto? Será que, três anos decorridos sobre as eleições de 2009, não foi ainda possível encontrar nenhuma empresa que avançasse com uma proposta do agrado do município?

Fases de um parto (muito…) difícil

Em assembleia municipal de Dezembro de 2010 e segundo a própria presidente da câmara, já nessa altura várias empresas haviam manifestado interesse em organizar o festival, tendo algumas delas até apresentado propostas. Referiu a importância de elaborar um caderno de encargos com vista à apresentação de um concurso público, como forma mais transparente de escolher a melhor proposta.

Em assembleia de freguesia de Abril de 2011, a presidente da junta de Vilar de Mouros, em resposta a uma pergunta sobre a não realização do festival nesse ano, disse que se continuava a aguardar pela apresentação de propostas que dessem garantias de um projeto por um período alargado, por parte de empresas que ficaram de o fazer e às quais foi dado um prazo, até final desse mesmo mês.

Entretanto passou mais um ano e, em assembleia municipal de Abril de 2012 a presidente da câmara, questionada por um delegado, respondeu que “ficou espantada” (espanta-se com muita facilidade, acrescento eu…) “quando o ouviu falar no Festival de Vilar de Mouros e na dinâmica do comércio local”, acrescentando que “no último festival, o que se viu foram caravanas a vender dentro do recinto…”, dando a entender que os comerciantes caminhenses em nada lucram com festivais assim. Referiu ainda “ficar surpreendida com o facto de acharem estranho que a câmara não aceite propostas de empresas que têm como único objetivo o lucro…”.

Mas…alguém entende esta coreografia linguística da sra presidente? 

Eu, desde já confesso, não entendo…ou entendo bem demais: voltamos à estaca zero! Claro que as empresas são profissionais do ramo, vivem disso e preferem que os comerciantes instalem dentro do recinto as suas caravanas e paguem por isso, é normal. Mas, para que servem as propostas e as negociações?  Naturalmente, para se buscarem consensos e entendimentos, depreendo! Não me venham é dizer que, seja qual for o modelo, o comércio local não retira proveitos, e bons, do festival! Por acaso fizeram algum estudo sobre isso? Então publiquem-no e, já agora, publiquem também que empresas se candidataram à realização de novas edições e que propostas tão interesseiras apresentaram para terem de ser rejeitadas pela câmara!

Julgo de toda a oportunidade voltar a recordar aqui, porque a memória das pessoas também parece estar afetada pela crise e a ficar cada vez mais curta, que ainda há bem poucos anos atrás as empresas fizeram avultados investimentos em Vilar de Mouros, quer na compra dos terrenos da Chousa, que hoje são da junta (Largo Dr António Barge), com cerca de cinco hectares, quer na realização de obras, quer até no pagamento de importantes verbas à autarquia para poderem aí fazer o festival!
Largo Dr António Barge


Os caminhenses têm o direito de saber a verdade

Então vamos, por uma vez, falar claro e explicar, sem rodeios, aos caminhenses, o que realmente se passa! O que levou a uma mudança tão radical? Por que motivo as empresas deixaram de estar interessadas em organizar o mais mítico festival português, o tal que, como já disse Luís Montez (para quem, tenho de o reconhecer, a junta a que pertenci foi mal agradecida), quase nem precisa de propaganda porque o nome “Vilar de Mouros” é, por si só, um grande cartaz?!

Sinceramente e lamento ter de dizer isto, só vejo uma razão: não querem meter-se em sarilhos! Elas sabem o que aconteceu em 2005 e 2006, sabem do que é capaz um poder municipal como o que temos, quando do outro lado está alguém, mais pequeno, que se atreve a não concordar com as suas opções, e sabem que dentro de pouco mais de um ano há eleições, tudo podendo acontecer. Ora, como é indispensável, para que o festival decorra com a normalidade exigível, um bom entendimento entre as duas entidades, câmara e junta, parceiras em todo o processo, e não estando isso garantido à partida… com tantos novos e bons festivais a surgir de ano para ano e tantas opções de escolha, para quê arriscar podendo jogar pelo seguro? As empresas vão investir onde há estabilidade, segurança,  e Vilar de Mouros, usando uma expressão muito em voga, “que se lixe”! Estarei enganado?! Só elas o poderão dizer, mas o tempo encarregar-se-á de fazer luz sobre o assunto.

Um piquenique para celebrar e não esquecer

Nem de propósito! Quando o texto desta mensagem, inspirado na notícia do Faro de Vigo que a encabeça, já estava quase pronto, surgiu-me um convite, dirigido por Fernando Zamith, para participar num piquenique, no Largo do Festival, no próximo dia 31 de Julho, já na próxima terça feira, a partir das 12 horas. A ideia deste jornalista, docente na Universidade do Porto e autor do Livro “Vilar de Mouros – 35 anos de festivais”, foi lançada a partir de um evento público do Facebook, “Remember Vilar de Mouros 82” e visa juntar o maior número possível de pessoas naquele idílico espaço, assinalando, relembrando e celebrando a passagem de trinta anos sobre um dos mais míticos festivais de Vilar de Mouros.
Talvez, quem sabe, seja uma excelente oportunidade para mostrar a todos, desde a comunicação social às entidades oficiais, empresas, patrocinadores e outros que “o nosso festival” não morreu, só espera por melhores dias e vontades para renascer, uma vez mais, das cinzas e tornar a elevar bem alto o nome de Vilar de Mouros, de Caminha e de toda esta região.

Eu vou lá estar. Apareça também, traga o seu farnel e convide amigos a fazer o mesmo.

Parabéns, Fernando Zamith, por esta bela iniciativa.

3 comentários:

  1. Parabéns pela iniciativa... lamentando também que a cupidez de uns e a estupidez de outros tenham deixado morrer (ou será antes "agonizar"?) uma iniciativa que rapidamente se tornou marco e ícone desta nobre, mas modesta, envergonhada e (talvez por isso mesmo) desprezada região Minhota.
    A.Oliveira

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  2. Concordo em absoluto que tenha havido cupidez e estupidez às carradas, mas acrescentaria: ingenuidade de alguns (eu incluído, como membro da junta), mesquinhez política e prepotência inadmissível em democracia. O concelho e toda a região foram fortemente prejudicados, por quem tinha a obrigação de os defender. O festival, quero crer, não está morto, mas que levou um abanão tremendo, disso não tenho dúvidas e pode levar muitos anos a recompôr-se (seis já lá vão). A memória do saudoso Dr. António Barge, meu grande amigo e vizinho, que dedicou muitos anos da sua vida a trabalhar para a promoção e elevação desta "modesta, envergonhada...e desprezada região", também merecia, até pelos terríveis prejuízos financeiros que teve de suportar, sem a juda de ninguém, outro respeito.

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    1. Meu caro Basílio,
      Obrigado pelo seu comentário, que "apenas" vem reforçar o meu sentimento de "jovem" septuagenário da era "Vilar de Mouros", minhoto "adoptivo" com ancestrais raízes galegas... Mau grado não ter o prazer de o conhecer pessoalmente, concordo plenamente com as suas afirmações!
      Cordiais Saudações

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