Realizou-se, com início às 16 horas de 21 (domingo) e término pelas 10 da manhã de 22 de Agosto (segunda-feira, dia de trabalho para muitos), nos largos do Casal e Dr. António Barge, imediatamente a seguir ao já tradicional encontro anual do Grupo Motard, um evento musical organizado pela empresa Energie Music, com os apoios institucionais da Câmara Municipal de Caminha e da Junta de Freguesia de Vilar de Mouros. Não, não teve nada a ver com o Festival de Música de Vilar de Mouros: reconheceu-o a Câmara, disse-o a Junta. Foi mais, digo eu, uma “village party”, ou seja, uma espécie de “beach party”, à base de música electrónica, só que, em vez de ter lugar, como devia, numa praia (beach), veio para o centro de uma povoação (village) onde existem, bem perto, habitações com crianças e pessoas acamadas que tiveram de suportar, durante cerca de 18 horas consecutivas, todo aquele intenso barulho. Assim, não me interessa muito falar sobre um evento que, na minha opinião, nem devia ter existido, e onde nem pude estar por razões pessoais, mas antes sobre todo um processo assaz confuso que o antecedeu, bem revelador da incapacidade do poder instalado, que domina e governa (?) o município, para dar uma resposta satisfatória à problemática do festival. Claro que em águas turvas é mais fácil pescar e aí surge sempre o oportunismo de alguns que tentam retirar o máximo proveito dessa mesma confusão e incapacidade. Foi, não tenho dúvidas, o que aconteceu neste caso. Senão, e fazendo uma curta retrospectiva sobre o que disseram alguns intervenientes, nos últimos tempos, sobre o assunto, vejamos esta delícia de coerências:
Construção em homenagem ao Dr. Barge (a corrente foi-se há muito) |
Assembleia municipal de 17 De Dezembro
Foto tirada dia 22 à tarde |
Sobre isto ocorrem-me duas questões:
- por que razão, passados oito meses, não se sabe nada sobre quais as empresas que apresentaram propostas, qual o conteúdo mínimo dessas propostas e se já foi ou não elaborado o tal caderno de encargos?
Desfazer da tenda. Não pude estar antes |
Assembleia municipal de 25 de Fevereiro
Em resposta a uma série de questões e comentários colocados pela delegada vilarmourense do PS, Julieta Alves, Narciso Correia, delegado e líder parlamentar do PSD teceu um conjunto de considerações de que destaco e passo a sintetizar:
- é preciso reflectir sobre que tipo de festival queremos, já que o de 1971 (até disse 73, naturalmente por lapso) “não tem nada haver com as últimas edições” (sic, transcrito da acta on-line, dessa reunião, do sítio da Câmara), sem qualquer cartaz, com (e volto a citar) “uns grupitos que andam ali numas digressões europeias, que
fazem um ‘biscate’ aqui às 10 e depois vão fazer à meia-noite outro noutro lado. Faz-me lembrar alguns artistas que andam de romaria em romaria no Verão, tocam às nove nesta, às 10 naquela, às 11 na outra”;
fazem um ‘biscate’ aqui às 10 e depois vão fazer à meia-noite outro noutro lado. Faz-me lembrar alguns artistas que andam de romaria em romaria no Verão, tocam às nove nesta, às 10 naquela, às 11 na outra”;
- tendo surgido, depois de Vilar de Mouros, uma série de festivais de música com gente nova, como em Paredes de Coura e no Alentejo, é um disparate fazer aqui mais um semelhante, devendo antes optar-se por uma solução de mercado completamente diferente, que talvez não exista em Portugal mas sim na Europa, com grupos como os Eagles, os Supertramp e outros, que fazem, na Alemanha, festivais com 100, 200 e 300 mil pessoas e nem cobram tanto dinheiro como esses grupos novos pois, sendo ricos, tocam mais por prazer que outra coisa.
- duvida muito do interesse das empresas que habitualmente concorrem à organização do Festival de Vilar de Mouros em querer fazer um evento com estas características.
Analisando estas ideias tenho de concordar que, de um modo geral e pelo menos no plano teórico, elas são bastante interessantes mas, na prática, duvido muito da sua aplicabilidade, como aliás e de forma implícita o seu autor acabou por admitir. Todavia e embora concordando que o cartaz das últimas edições não foi brilhante, acho um exagero tremendo meter no mesmo saco dos “grupitos que andam ali numas digressões europeias” a fazer uns “biscates”, nomes como (podia ir buscar outros bem mais sonantes mas vou
reportar-me apenas a 2005 e 2006, as duas últimas edições, “diabolizadas” pelo município…) Joe Cocker, Robert Plant, Peter Murphy, The Durutti Column e Xutos e Pontapés, curiosamente todos eles já em actividade artística na década de 70.
Por outro lado, esta intervenção do sr delegado do PSD põe-me outro tipo de dúvidas, tais como:
reportar-me apenas a 2005 e 2006, as duas últimas edições, “diabolizadas” pelo município…) Joe Cocker, Robert Plant, Peter Murphy, The Durutti Column e Xutos e Pontapés, curiosamente todos eles já em actividade artística na década de 70.
Por outro lado, esta intervenção do sr delegado do PSD põe-me outro tipo de dúvidas, tais como:
1 - Para se conseguir ou, pelo menos, tentar um tipo de festival diferente e melhor, como todos gostaríamos, não teria de competir à Câmara a iniciativa de o promover, nomeadamente através do estabelecimento de contactos com as tais empresas europeias que o fazem noutros países? E fê-lo? Claro que não! Bem, então temos de concluir que, pelo menos aqui, não há qualquer sintonia entre o que pensa o líder parlamentar do PSD e o que fez a Câmara, que se limitou, tudo o indica, a aguardar que as empresas aparecessem com propostas, delegando na presidente da Junta de Vilar de Mouros e num vereador toda a responsabilidade do processo.
2 – Sem, de algum modo, querer pôr em causa a sinceridade das opiniões do sr deputado, receio também que a sua intervenção, mesmo não fazendo parte duma estratégia concertada, possa vir a ser aproveitada por quem gere o município para justificar aquilo que me parece evidente: a total incapacidade em definir uma estratégia e encontrar quem queira organizar novas edições. É que, subindo
muito a fasquia, o insucesso poderá ser mais facilmente desculpável.
31 de Julho, azenhas...sem "festival" |
Assembleia de freguesia de 29 de Abril
Não vou aqui desenvolver o que foi dito nesta assembleia sobre o evento realizado há dias, uma vez que já o fiz em anterior mensagem deste mesmo blogue, no ponto 2, com o subtítulo “Festival em Vilar de Mouros”, que poderá ser consultado por quem estiver interessado. Assim, limito-me a recordar que a Presidente da Junta informou tratar-se de uma proposta da empresa Energie Music, que escolheu o dia 21 de Agosto por coincidir com o fim do festival de Paredes de Coura e julgar que pode tirar daí algum proveito em termos de afluência de público. Disse ainda que continua a aguardar, até final de Abril, a apresentação de propostas que dêem garantias de um projecto por um período alargado de tempo e que o acordo a que se chegou com a Energie Music para este ano tem também como objectivo ser um chamariz para que outras empresas possam avançar e vir de encontro ao que se pretende, se possível já para 2012.
Conferência de imprensa em Junho, no Salão Nobre
Segundo o jornal “Caminhense”, de 24 de Junho, realizou-se no Salão Nobre da Câmara Municipal uma conferência de imprensa para apresentação do cartaz, com a presença do vereador da cultura, Paulo Pereira, em representação do município e de Miguel Rendeiro, da empresa organizadora. Aí foi dito, pelo primeiro,
conforme o mesmo jornal, que “este evento não vem substituir o festival de Música de Vilar de Mouros que já não se realiza desde 2006” e que “tem uma identidade própria”, escusando-se, no entanto, a pronunciar-se sobre o futuro. Já Miguel Rendeiro, em representação da Energie Music, afirmou, segundo o mesmo jornal, que “o Festival de Vilar de Mouros acabou…foi um marco desta região, mas para nós acabou”. Pelos vistos o sr vereador ficou mudo e quedo depois de ouvir isto, como continuaram calados Junta e Câmara, nenhum reagindo a estas palavras do empresário.
conforme o mesmo jornal, que “este evento não vem substituir o festival de Música de Vilar de Mouros que já não se realiza desde 2006” e que “tem uma identidade própria”, escusando-se, no entanto, a pronunciar-se sobre o futuro. Já Miguel Rendeiro, em representação da Energie Music, afirmou, segundo o mesmo jornal, que “o Festival de Vilar de Mouros acabou…foi um marco desta região, mas para nós acabou”. Pelos vistos o sr vereador ficou mudo e quedo depois de ouvir isto, como continuaram calados Junta e Câmara, nenhum reagindo a estas palavras do empresário.
Agora pergunto eu: afinal em que ficamos? Alguém se apercebeu de, ao menos, um ténue fio condutor de pensamento coerente no meio desta trapalhada toda? Então é aceitável que, depois de se assumir que um dos objectivos do acordo com a Energie Music para a organização do evento deste ano seria o de cativar o interesse de outras empresas para a apresentação de projectos interessantes, por um período alargado, para a retoma do Festival, se fique calado quando o representante dessa mesma Energie Music diz, em conferência de imprensa e “nas barbas” do vereador, que “o festival de Vilar de Mouros acabou”? É anunciando-lhe a morte que se faz a promoção?
No entanto e evidenciando o tal oportunismo típico do chico-espertismo português, não se teve pejo em escrever, no desdobrável onde consta o cartaz do “festival”, logo no início do texto, que (e cito) “Vilar de Mouros está de volta…aquele que é considerado por muitos como um local de culto e o palco natural dos grandes concertos ao ar livre, vai receber grandes nomes da música…”. É preciso ter lata!
A concluir julgo ser interessante retomar a questão do negócio de que falou a presidente da Câmara: afinal, este ano, quem lucrou
com o negócio? Só se foi a empresa organizadora…essa acredito que sim: apanhou as “sobras de Paredes de Coura”, os terrenos comprados por outros, o nome mítico de um festival que ela diz ter acabado! A Junta, pelo que se sabe, não recebeu nada, beneficiações na freguesia não se vêem (nem os balneários do palco foram ainda arranjados…), é certo que foram distribuídos bilhetes gratuitos a toda a população recenseada que o desejou mas, tanto quanto me consta pelas informações que colhi, uma vez que, como já escrevi, não pude estar presente, foi escassíssima a adesão dos vilarmourenses a um “festival” com o qual a esmagadora maioria não se sente identificada. Como é possível, em tão pouco tempo, um volte-face como este? Anteriormente as empresas pagavam, e bem, para poderem fazer o festival, adquiriram para a freguesia todo aquele enorme espaço da Chousa hoje chamado Largo Dr. António Barge (desta vez cedido de borla para a tal “village party”), assumiram a realização de muitas benfeitorias e agora, segundo a própria presidente da câmara, parece estarem à espera que seja a autarquia a garantir a cobertura dos prejuízos! Que se passa? Qual a razão que leva as empresas a retraírem-se? Que esteve na base de tudo isto? Deixo a pergunta à reflexão dos vilarmourenses e caminhenses.
Extenso Largo Dr António Barge |