Claro que este título é uma ficção, mas podia muito bem ser uma realidade se quem decide sobre os destinos de Caminha há mais de oito anos pusesse os interesses globais de Vilar de Mouros e de todo o concelho acima de estratégias de conquista e manutenção do poder a todo o custo.
Hoje só não vê quem não quer que o objectivo número um do executivo municipal para esta freguesia, no mandato anterior, era derrubar a junta CDU. Valeu tudo para isso.
São múltiplos os exemplos que o comprovam, assim como é clara a estratégia seguida para esse fim: a asfixia financeira!
Ora, para que isso fosse conseguido não bastava cortar radicalmente nas transferências do município para a junta, como foi feito (se a memória não me falha, em 4 anos veio da Câmara, no total, pouco mais de 9 mil euros), era preciso secar também outras fontes de rendimento e o festival era a mais importante. A ser cumprido o protocolo com a empresa organizadora (que, note-se, também não está isenta de culpas) e se tudo corresse normalmente, no final das seis edições (2005 a 2010) Vilar de Mouros encaixaria € 250.000,00 para gastar no que entendesse, mais € 300.000,00 para investir em infra-estruturas no recinto e outras relacionadas com o festival.
Está-se mesmo a ver o “interesse” que o executivo camarário teria em “apoiar” tal evento...e foi o que se viu, terminando como terminou: clima de verdadeira guerrilha em 2005 e 2006 (nem uma palavra sobre o Festival na Agenda Cultural de Julho da Câmara deste ano, quando era festejado o seu 35º aniversário...), e desistência da empresa em 2007!
O que passou, passou, não há nada a fazer.
Mas, agora, apetece perguntar: se, no último mandato, a Câmara (propagandeando ajuda e puxando para trás) responsabilizou a junta e a empresa pelo fracasso e suspensão do festival, por que diabo continua a não haver em 2010? "Não houve tempo suficiente para o preparar…" será a desculpa a impingir aos “crédulos” (e há muitos neste concelho…uns por ingenuidade, outros por deficiente informação outros, se calhar, por receio de represálias, outros ainda por interesses de vária ordem)! Mas como é isso possível se, no dia 3 de Abril de 2009, há bem mais de um ano, foi assinado um protocolo tripartido (Câmara, Junta e Porto Eventos) que pôs a zero todos os compromissos assumidos em acordos anteriores, possibilitando, de imediato, o início e cito, “da institucionalização de uma entidade em que sejam partes a Câmara Municipal e a freguesia de Vilar de Mouros, representada pela sua Junta de Freguesia que…consiga levar a bom porto a reedição do Festival já no ano de 2009”. É verdade, já em 2009! Claro que ninguém de bom senso acreditou nisso, mas em 2010 também não?! … Porquê?!
Só encontro uma justificação com alguma lógica: a Câmara “queimou” mais de seis meses à espera das eleições autárquicas de Outubro, na esperança de um resultado eleitoral que não a obrigasse a negociar com os “comunistas”. Com uma vitória tangencial e a “preciosa” ajuda de dois ex-“socialistas”, conseguiu-o, ficando assim com uma junta à medida dos seus desejos, com o caminho aberto para um acordo fácil. Então porque não há festival? Quanto a mim o problema é que já era demasiado tarde! A organização deste evento exige uma preparação cuidadosa, com muita antecedência e, em cima da hora e com tantos festivais espalhados pelo país, com os melhores fins de semana já ocupados por outros importantes acontecimentos, nenhuma empresa credível deve ter tido disponibilidade para avançar e correr sérios riscos de um fracasso rotundo.
Note-se que não é por acaso que eu escrevo este artigo agora: as datas mais prováveis, a manter-se a tradição dos últimos festivais, seriam este fim de semana: 23, 24 e 25 de Julho.
É assim que se gere a coisa pública e, lamentavelmente, não é só em Caminha. Os interesses de quem, conjunturalmente, está no poleiro e tudo faz para lá se manter (pelos vistos dá muito jeito), sobrepõem-se, "democraticamente", aos de toda uma comunidade e assim vai continuar enquanto houver muitos “crédulos”!