Palco construído para o Festival de 1982 |
Depois de mais um dia com períodos de chuva intensa e algum vento, por volta das 23H45, acabava eu de arrumar o carro debaixo do barraco onde habitualmente fica quando, estando ainda no seu interior e com os faróis ligados, tudo aconteceu.
Estás preparado para a vida, bichaneco…
Entretanto, saindo do carro e olhando para cima, para a cobertura do barraco, verifico que existia lá um buraco: algumas telhas haviam-se deslocado e uma delas estava em cacos ali mesmo, no chão, a um metro de distância! Com tanta confusão nem a ouvira cair e…não acertou em mim nem no carro por um triz! Sou um homem com sorte.
Aos poucos fui-me apercebendo do que realmente se passara. O telhado de minha casa tinha várias telhas partidas e muitas fora do sítio. O cume foi todo à vida…A chuva, que não parava de cair, entrava em vários pontos para o sótão, ameaçando invadir o resto da habitação.
Remediei o que pude, enviei uma mensagem, pela 01H00, ao Rui Adão (operário da construção civil venadense que, por coincidência, andava a fazer uns trabalhos para mim desde há uns dias), explicando a situação, pedindo-lhe que passasse por lá na manhã do dia seguinte o mais cedo possível e…deitei-me. Só não rezei porque a minha fé, que nunca foi famosa, esfarraparam-na toda há muito…
Ora, não é que o Rui, passado cerca de meia hora, estava a bater-me à porta, pronto para ajudar?! Foi para cima do telhado, de noite, a chover e a ventar, ajeitou o que pôde e o certo é que mais água não passou lá para dentro. Rui, tu não cumpriste o teu dever, tu foste muito além daquilo que te competia. Por isso aqui te deixo o meu obrigado e reconhecimento públicos por um gesto exemplar que, cada vez mais, se usa menos!
Remediei o que pude, enviei uma mensagem, pela 01H00, ao Rui Adão (operário da construção civil venadense que, por coincidência, andava a fazer uns trabalhos para mim desde há uns dias), explicando a situação, pedindo-lhe que passasse por lá na manhã do dia seguinte o mais cedo possível e…deitei-me. Só não rezei porque a minha fé, que nunca foi famosa, esfarraparam-na toda há muito…
Largo de Chelo |
Voltando ao (caldo em) tornado, não me interessa repetir o muito que já foi dito e registado fotograficamente sobre o assunto, com maior ou menor rigor, pelas mais diversas entidades, pessoas e meios. Por me parecer interessante, deixo aqui um link para o trabalho que o caminha2000 já publicou sobre o assunto.
Largo do Casal - trabalhos de recuperação |
Não me lembro e julgo que ninguém se lembra de alguma outra vez ter acontecido uma coisa semelhante em Vilar de Mouros. Segundo tudo indica, este fenómeno (coluna de vento ciclónico em área restrita... mas de grande poder destruidor) muito frequente nas costas americanas, terá acontecido pela primeira vez na nossa freguesia. Claro que tinha logo de me apanhar a mim no seu caminho…de outro modo a piada não seria a mesma!
Largo do Casal, com poste derrubado |
Festivais de Música que ele, com tanto entusiasmo e coragem, criou. Por outro lado, a sede do grupo musical (em vias de extinção, é verdade…), Lés a Lés, de que tanto eu como o meu irmão sempre fizemos parte, fica também em Chelo, onde residimos. Tudo isto faz-me pensar se não terá havido, no reino da meteorologia, algum golpe de estado extremista, com a deposição do velhinho S. Pedro e a tomada do poder por um qualquer Belzebu que não suporta a música... É que até o teclado que eu usava no grupo e que se encontrava num dos barracões semi destruídos foi atingido e danificado por estilhaços de pedras e outros detritos provocados pela
intempérie!
A minha casa, a do meu irmão e a da minha irmã, todas contíguas, foram, bem como os respectivos quintais, cobertos, barracões, árvores e outros bens, as mais massacradas da freguesia. A maior parte das fotos que apresento são obtidas nessas três propriedades (todas as que aparecem sem legenda incorporadas neste texto e outras devidamente identificadas, no fim da mensagem) e parecem-me bem demonstrativas do que afirmo mas, acreditem ou não, a minha intenção ao publicá-las não visa despertar o sentimento de caridadezinha tão típica do português com vista, quem sabe, à realização de algum peditório, ou à sensibilização para a obtenção de um qualquer subsídio institucional. Nada disso...é minha única intenção acrescentar algo ainda pouco ou nada conhecido ao muito que já foi dito e publicado, no sentido de se ficar com uma visão mais abrangente de tudo quanto se passou e, esperemos, não volte a repetir-se...
A concluir não posso deixar de registar a prontidão, a rapidez, a eficácia e a boa articulação que transpareceram da ação de todos quantos intervieram, e muitos foram (proteção civil, câmara, junta, bombeiros, GNR e populares) na reposição possível da normalidade pós-tornado, com um pequeno reparo, até porque a situação já está, no essencial, ultrapassada: acho que devia ter sido dada um pouco mais de prioridade à desobstrução do Largo de Chelo, de forma a possibilitar, com mais celeridade, o acesso automóvel a três habitações existentes no local.
Outras fotos
Outras fotos
Largo do Casal
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Largo de Chelo
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Propriedades privadas
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Comentário de JOAQUIM ALDEIA GONÇALVES, enviado por e-mail, com pedido de publicação:
ResponderEliminar“É uma reportagem muito completa, ou assim me parece porque não pude visitar os locais, redigida de forma exemplar apenas por quem pode e não por quem quer, e que nos fornece uma panorâmica global perfeita do que infelizmente nos assolou a todos, uns com prejuízos materiais mais volumosos do que outros mas todos, vilarmourenses ou cidadãos do mundo, com prejuízos genéricos de índole patrimonial que, todos, se lamentam mas não podem evitar-se! Resta-nos o consôlo de que não tenha havido danos corporais relevantes e resta-nos, também, a esperança de que o futuro meteorológico seja mais amigo de todos. Estes casos, inevitavelmente porque nos tocam mais, dada a nossa natureza humana, servem para podermos perceber melhor as agonias das grandes catástrofes que proliferam pelo mundo e que, com maior dinâmica e efeitos muito mais destruidores, deixam tanta gente sem teto e tanta outra sem vida. Um abraço.”
Muito obrigado pelo teu comentário, amigo Joaquim, e pela forma simpática como te referes à mensagem que publiquei. Não acho que seja tão completa assim, antes pelo contrário, sendo minha intenção apenas, ao fazê-la e ao publicá-la, dar o meu contributo, muito pessoal, no sentido de acrescentar algo que ainda não tinha sido publicado por ninguém, o que até se compreende, por se tratar, sobretudo, de vivências e registos meus e de familiares próximos.
ResponderEliminarAcho muito oportuna a tua chamada de atenção para a dor, o sofrimento e até a morte de tantas pessoas quando ocorrem fenómenos deste tipo, mas muito mais graves, em várias partes do mundo e que nós, em regra, tendemos a valorizar pouco porque...não nos toca diretamente. Abraço