Na noite de 12 de Abril último, num debate realizado numa estação de rádio e a propósito da recente eleição de Passos Coelho para presidente do PSD, ouvi um ilustre militante deste partido e ex-ministro, Morais Sarmento, dizer que uma das dificuldades que o novo líder poderia vir a ter de enfrentar para unir e entusiasmar, não as elites, mas as bases do partido, seria a sua maneira algo distante e fria de fazer política (comparando-o, neste aspecto, ao estilo de José Sócrates) quando os militantes, por razões históricas e culturais, estarão mais receptivos e serão mais facilmente atraídos e empolgáveis por alguém que transmita uma imagem geradora de afectos e emoções (indicando mesmo Santana Lopes como exemplo de expoente máximo, nessa vertente).
Achei alguma piada, não pela análise ou opinião em si, até porque é de todos conhecida a forte capacidade mobilizadora dos sentimentos (veja-se o exemplo, quantas vezes nada dignificante, do futebol), mas porque há muito eu venho dizendo que a Câmara Municipal de Caminha, desde que o seu executivo passou a ser composto por pessoas ligadas ao PSD e liderado pela actual presidente, gere os destinos concelhios muito mais com o coração do que com a cabeça. Claro que digo isto com alguma ironia, porque nada tenho contra afectos ou emoções, antes pelo contrário, desde que, quando está em causa a administração de importantes bens e interesses públicos, eles não afectem e não se sobreponham à frieza e lucidez de raciocínio exigíveis e indispensáveis à prática de uma gestão democrática, equilibrada, dinâmica e justa.
Ora aqui é que bate o ponto: a diferença de tratamento entre os “amigos” e os “outros” é, neste concelho, bem visível e constatável a vários níveis. Já se sabia da existência de câmaras dos lordes, câmaras dos comuns, câmaras ardentes, câmaras de ar, câmaras escuras, claras, de filmar e até das lamentavelmente famosas câmaras de gás dos nazis!…Agora, câmaras do amor deve ser mais uma originalidade portuguesa… e existe um excelente exemplar (pelos piores motivos) em Caminha. Para aqueles que são amados (apoiantes, seguidores, submissos ou bajuladores), há todo o tipo de ajuda e benesses. Para os outros é a indiferença, o alheamento, a marginalização, quando não a hostilização. Só os muito distraídos ou os que tiram partido da situação é que não vêm isto.
Vilar de Mouros e eu próprio, como membro da junta, sentimo-lo bem, muito em especial nos últimos seis anos de mandato (de 2004 a 2009). E porquê? Para mim é muito simples. O executivo camarário, dominado por uma senhora cujo grau de prepotência e ânsia de poder apoiados, há que reconhecê-lo, numa elevada capacidade de retórica, argúcia e muita encenação, não admite que as suas opções ou decisões sejam contrariadas por ninguém, nem que seja do próprio partido. Então os senhores presidentes de junta, cuja capacidade de acção depende, e muito, da colaboração da Câmara, que se cuidem!…Estão bem avisados e, se querem obras, transferência de verbas ou outros apoios para as suas freguesias já sabem o que têm a fazer: votar sempre a favor de todas as opções camarárias, mesmo que com elas não concordem!
Vilar de Mouros não o fez e saiu-lhe caro. Não só a si como, por arrastamento, a todo o concelho. É que, é bom não esquecer, não tendo sido a única e admitindo mesmo que a própria junta tenha de assumir uma ou outra falha em tão complexo processo, não tenho dúvidas em afirmar que a grande responsável pela interrupção do Festival de Música, já lá vão, com este, quatro anos, foi a Câmara Municipal. O protocolo então vigente, que previa, à semelhança do anterior, a concessão de importantes verbas à junta e uma consequente relativa autonomia face ao município, não podia ser admitido por um executivo camarário que assumiu como um dos seus principais objectivos o derrube dessa mesma junta, tida como “não amiga”, usando a asfixia financeira como meio privilegiado. E os prejuízos que daí advieram para todo o concelho? Quantos milhões de euros deixaram de entrar em Caminha nesses quatro anos?! Nunca se saberá mas isso também pouco interessa, não é?!...o objectivo foi atingido!
Como tudo poderia ter sido diferente se a Junta de Vilar de Mouros tivesse concordado com o corte ao meio da freguesia por uma ponte com mais de um quilómetro de comprimento, no âmbito da construção da A28, como a Câmara queria!..Foi aqui que começou o processo de “divórcio”, nada amigável.
Como tudo poderia ter sido diferente se a Junta se tivesse demarcado do movimento popular que participou, com outras freguesias e muitas individualidades, numa manifestação silenciosa, ordeira e pacífica, em 2003, em Caminha, contra o traçado que nos queriam impor, manifestação essa que a sra. presidente quis impedir a todo o custo, enviando mesmo uma participação à GNR de que resultou a constituição de cinco arguidos (dois de Vilar de Mouros) com termo de identidade e residência fixa, como vulgares criminosos, durante anos, até que a sentença judicial os absolveu e (pasme-se!) criticou a Câmara por não ter sequer tentado, na altura, encontrar uma solução dialogada e consensual.
Como tudo poderia ter sido diferente se o presidente da junta votasse favoravelmente a adesão à Valimar e a opção pela Suma!...Como tudo…pois é, essa mania que alguns ainda têm de quererem pensar pelas suas próprias cabeças são resquícios de um período pós-revolucionário do 25 de Abril a que há que pôr termo! Se temos líderes com grandes capacidades a pensar por nós, seremos muito mal agradecidos se não nos limitarmos a apoiar e aplaudir entusiasticamente! Em prol do amor, da harmonia e da felicidade de todos, claro! Pelo menos é o que alguns gostariam que acontecesse. Se um dia aí chegarmos ( lagarto, lagarto, lagarto…) eu quero ir p’rá ilha! P’rá da Madeira? Bolas…não! Quero fazer como aquele náufrago da comédia televisiva que preferiu voltar para a ilha deserta quando lhe explicaram o estado a que chegou o nosso país!
Viva o 25 de Abril
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