VILAR DE MOUROS SEMPRE

Blogue que visa a promoção e divulgação de Vilar de Mouros, sua cultura, seus interesses, necessidades, realizações e suas gentes, mas que poderá abordar também outros temas, de ordem local, regional ou mesmo nacional.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Pesca ao meixão no Rio Minho

O Rio Minho, curso de água que faz fronteira, numa extensão aproximada de setenta e cinco quilómetros, entre Portugal e Espanha, desde Cevide, localidade mais a norte do nosso país, na freguesia de Cristoval, concelho de Melgaço, até Caminha, onde desagua no mar, junto ao forte da Ínsua, é bem conhecido, para além da deslumbrante beleza das suas paisagens, pela abundância e qualidade ímpar das múltiplas espécies piscícolas das suas águas, de que destaco o salmão, o sável, a truta, a solha, o robalo, o meixão e a lampreia. Não estranha, assim, que haja muitos pescadores, de ambas as margens do rio que, nas épocas próprias, normalmente de inverno, se lancem nas suas frágeis embarcações, às horas mais indicadas em função das marés, em busca do sustento ou de um complemento do sustento familiar. Parece ser uma faina rentável, quando corre bem e a sorte ajuda, mas é seguramente dura e mesmo perigosa, sobretudo à noite,
muito em especial quando o estado da água e as condições climatéricas não são as melhores. As várias  tragédias ocorridas nesse local comprovam, infelizmente, isso mesmo.
As fotos que junto foram tiradas do topo norte do areal da praia do Camarido, em Caminha, no dia 17 de Fevereiro último, ao escurecer, as primeiras ainda com bastante luz e as últimas quase de noite, quando os pescadores do meixão começavam a chegar e a estender as suas redes. Note-se que este rio é o único, em Portugal, onde a pesca a esta espécie ainda é permitida. Céu limpo, barra em tons avermelhados, indiciadora de bom tempo e a quase ausência de vento eram a garantia, em princípio, de uma jornada de pesca tranquila mas, em contrapartida, o termómetro deve ter baixado dos zero graus…brrrrrrrr! Eu e o meu companheiro de expedição, o professor Paulo Bento, estivemos junto à água cerca de 40 minutos e já saímos em passo acelerado...   imagino os pescadores que por aí
permaneceram uma boa parte da noite! Assim, é a eles e, muito em especial, ao Rui Fernandes, professor/pescador que também por lá andava e que me deu indicações preciosas sobre o melhor local e altura para as obter, que dedico as fotos que apresento (clicar para aumentar). 
Espero que gostem…e continuação de boas pescas.   

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

DO COURA SE FEZ LUZ


Novo livro de
Paulo Torres Bento


Paulo Nuno Torres Bento fez a apresentação pública de mais uma     obra sua, desta feita “Do Coura se fez luz – Hidroeletricidade, iluminação pública e política no Alto Minho (1906 – 1960), uma edição da Afrontamento e do Caminha2000, de Luis Almeida, apoiada pela Fundação EDP, através do seu programa mecenático “Livros com Energia”. O lançamento aconteceu no passado sábado, dia quatro de Fevereiro, pelas dezassete horas, no Hotel Porta do Sol, em Caminha, com a presença de muitas pessoas, nomeadamente da família Lourenço da Cunha, fundadora da “Hidroelétrica do Coura” e de ex-trabalhadores dessa empresa e da EDP. A data escolhida para este evento também não foi ao acaso, já que assinala a passagem do
 primeiro centenário da inauguração da iluminação pública elétrica da vila de Caminha. Conforme o autor escreve na Introdução do seu livro, e passo a citar, “No dia 2 de fevereiro de 2012 cumprem-se cem anos da iluminação pública elétrica da vila de Caminha, a primeira localidade do Alto Minho, e uma das primeiras no país, a beneficiar das vantagens da hidroeletricidade. Deveu-o às generosas águas do rio Coura e ao engenho da Hidroelétrica do Coura, uma empresa familiar fundada por caminhenses que, nos anos seguintes, a partir da Central de Covas, levou a “luz do progresso”... a Viana do Castelo (1915), Vila Nova de Cerveira (1920), Ponte de Lima (1923) e, mais tarde, Paredes de Coura (1937). Um empreendimento
arrojado e pioneiro que assumiu a bandeira da hidroeletricidade e fez a guerra contra os outros sistemas de iluminação pública existentes na região, como o petróleo, o gás de carvão e o acetileno”.
Não me tendo sido possível, de todo, estar presente, como bem gostaria, nesta sessão pública para a qual fui pessoalmente convidado, resta-me agradecer à Edições Afrontamento e ao Jornal Digital Caminha@2000 esse mesmo convite, bem como ao professor António Garrido, bom amigo e colega, por ter disponibilizado as fotos que junto e que são da sua autoria.

Quanto ao autor, de quem sou, desde há escassos meses e com muito gosto, companheiro de trabalho no GEPPAV - Grupo de Estudo e Preservação do Património Vilarmouren- se, acho que exagerou nos louvores quando, na pág. sete do livro e referindo-se à minha “contribuição” para a obra em causa, escreveu que  “Basílio Barrocas - …deu algum do seu suor e…sangue num certo percurso acidentado…”. O que deveria ter escrito, com bem mais rigor histórico, é que eu, por aselhice e falta de treino em práticas de alpinismo, dei um trambolhão estúpido, esfolei uma perna e fiz com que tivessem de me levar às urgências, quando procurávamos, os dois, com o apoio à distância do António Lages (Totas)
  as fundações das comportas da antiga barragem de Covas! Enfim, um pequeno lapso até o maior historiador comete…
Voltando ao sério, tenho de felicitar o Paulo Bento por este novo e importante trabalho, que vem acrescentar ainda mais valor a um já vasto conjunto de obras que publicou, que em muito contribuem para a salvaguarda e divulgação da história e da cultura, não só de Vilar de Mouros como do concelho de Caminha, do Alto Minho e do próprio país.
Assim, é autor de: Currículo e Educação para a Cidadania (2000),  José Porto (1883-1965). Desvendando o Arquitecto de Vilar de Mouros (2003), Flausino Torres (1906-1974). Fragmentos e Documentos Biográficos de um Intelectual Antifascista (2006),
 Ruas de Caminha. Toponímia e História da Vila da Foz do Minho (2009), Da Monarquia à República no Concelho de Caminha (2010);
É ainda co-autor de: Desenvolvimento Pessoal e Social e Democracia na Escola (1993), Ferreiros e Serralheiros de Vilar de Mouros (2008), Dos Caiadores aos Estucadores e Maquetistas Vilarmourenses (2009) e Álbum de Memórias do Centro de Instrução e Recreio Vilarmourense (2011).
Mas Paulo Bento não se limita a pesquisar, estudar, organizar, salvaguardar e publicar factos que, não fora ele, bem se poderiam apagar para sempre da memória colectiva da sociedade. Não, ele intervém também, e de
que maneira, na realidade social e cultural em que está inserido.

 Licenciado em História pela Universidade do Porto e Mestre em Educação pela Universidade do Minho, nascido em Tondela em 1962, fixou residência em Vilar de Mouros a partir de 1995. Em boa hora o fez, para bem desta freguesia e do próprio concelho de Caminha. De facto, este professor em exercício na EB 2,3/Secundária de Caminha, vem demonstrando, ao longo destes cerca de dezasseis anos, uma atenção, uma preocupação e uma capacidade de intervenção ímpares nas mais diversas vertentes da vida comunitária local. Apaixonado pela história, pela cultura e pela escrita,
  é natural que o seu centro de interesses preferido ande à volta desses temas. O GEPPAV, de que é fundador, que há dias celebrou o seu oitavo aniversário e que tem já um valiosíssimo trabalho realizado, incluindo a publicação das três últimas obras que mencionei, como co-autor, na relação de livros seus, nunca teria, parece-me evidente, e sem qualquer desprimor para a também decisiva contribuição dos restantes membros, chegado a existir, não fora o seu entusiástico empenho pessoal.  Mas, é curioso, nem sequer foi a faceta de historiador que deu a conhecer, de início, Paulo Bento aos vilarmourenses e a mim próprio. Isso aconteceu, sobretudo, em 2002, no desencadear do conturbado processo de contestação ao traçado do IC1, depois A/28, em que se assumiu como um acérrimo lutador e defensor do património ambiental e paisagístico da freguesia, aceitando ser porta-voz da comissão de
 moradores que para o efeito se formou, acabando até, mais tarde, por ser um dos cinco arguidos que tiveram de se sentar no banco dos réus, na sequência da participação da presidente da câmara à GNR, tentando, sem o conseguir, impedir a realização de uma pacífica manifestação cívica de protesto na marginal de Caminha, em Agosto de 2003. A sentença, proferida apenas em 2006, não só ilibou todos de qualquer condenação, como criticou fortemente a actuação da presidente da câmara… só que, entretanto, haviam passado cerca de três anos…com termo de identidade e residência fixa. O abuso do poder, neste
país, costuma compensar.

A outro nível e ainda como membro do GEPPAV, sendo este grupo uma secção autónoma do CIRV – Centro de Instrução e Recreio Vilarmourense, vem desempenhando um importante papel no esforço, que parece, infelizmente, condenado ao fracasso, de manter acesa a cada vez mais ténue chama do associativismo. Recordo que, em 2011, a direção do CIRV nem sequer conseguiu levar à cena o tradicional espetáculo de teatro na época natalícia, e já em 2010, ano em que se comemorou o 75º aniversário da coletividade, isso só foi possível devido a uma intervenção
 empenhadíssima do próprio GEPPAV, com a inestimável ajuda do professor / encenador Fernando Borlido.
Homem com fortes convicções de esquerda, dificilmente iria resistir, no actual contexto político concelhio, ao apelo que lhe foi dirigido para dar a cara por um partido que, a nível local, defendesse os princípios e os valores democráticos de equidade, seriedade e de justiça em que acredita, em contraponto com um poder dominante instalado, onde a força faz, quantas vezes, tábua rasa da razão. Foi o que fez, nas últimas eleições autárquicas,   apresentando-se ao eleitorado como cabeça de lista à Assembleia Municipal pelo Bloco de Esquerda, tendo sido o primeiro, e único até hoje, eleito por aquele partido em Caminha. As suas intervenções, frequentes e assertivas, embora incómodas e mesmo contundentes,
  por vezes, sobretudo para quem lidera o executivo, são respeitadas até por muitos daqueles que com elas não concordam ou, quem sabe, nem sequer poderão admitir que concordam…
Como tudo poderia ser diferente se houvesse, sobretudo nos denominados partidos da área do poder, muitas pessoas como o Paulo Bento!...