A 5 de Outubro de 2011, dia em que se comemora a implantação da República e ano em que se assinala a passagem do 50º aniversário do início da guerra colonial no ultramar português, foi homenageado em Vilar de Mouros o único filho desta terra que perdeu a sua vida em combate, na Guiné, onde integrava uma companhia de comandos (tropa de elite do exército), no dia 27 de Dezembro de 1970, com 22 anos de idade.
Da cerimónia, organizada pela Comissão de Combatentes do Ultramar do concelho de Caminha e pela Junta de Freguesia de Vilar de Mouros e que contou com a colaboração da Liga dos Combatentes e o apoio da Câmara Municipal de Caminha, constaram três actos: a celebração de uma missa de homenagem na Igreja Paroquial de Vilar de Mouros, o descerrar de uma placa com a alteração toponímica que passou a designar o antigo “Caminho da Rapada” por “Caminho Soldado Mário Rocha”, no lugar da Cavada, nesta localidade, e o descerrar de outra placa, previamente colocada na parede fronteiriça ao caminho em causa, na casa onde nasceu o soldado homenageado, hoje habitada pelo seu irmão António, com as insígnias da Liga dos Combatentes e os dizeres
“HOMENAGEM AO SOLDADO “cmd” MÁRIO M. ROCHA”. O primeiro descerramento foi efectuado pela Presidente da Junta, Sónia Fernandes, e o segundo pelo irmão do soldado, como familiar mais próximo ainda vivo, e pelo representante da Associação de Comandos – Delegação de Viana do Castelo.
Participaram nestes actos, em representação das instituições a que pertencem, a presidente e restantes membros da Junta de Freguesia, o vereador do pelouro da cultura da Câmara, o presidente da Assembleia Municipal de Caminha, o presidente e outros dois delegados da Assembleia de Freguesia de Vilar de Mouros (Mário Ranhada, João Arieira e José Barros), um elemento do GEPPAV (Plácido Souto), o comandante da Capitania do Porto de Caminha, vários membros da Comissão de Combatentes do Ultramar do concelho de Caminha bem como da Associação de Comandos (Delegação de Viana do Castelo) e da Liga dos Combatentes.
Usaram da palavra, em curtas intervenções, a Presidente da Junta e o vereador do pelouro da cultura da Câmara Municipal (aquando do descerrar da placa com o novo nome atribuído ao caminho) e ainda os representantes da Comissão de Combatentes do Ultramar do concelho de Caminha e da Associação de Comandos – delegação de Viana do Castelo (aquando do descerrar da placa colocada na casa onde nasceu o homenageado).
Todos eles, de uma maneira geral, se referiram à importância e ao significado da realização desta cerimónia no dia em que se comemora a implantação da República e manifestaram o seu regozijo não só pelo elevado número de entidades que se fizeram representar como
pela elevada participação de público em geral, tendo os dois oradores militares destacado e enaltecido as qualidades e virtudes inerentes às forças a que pertenceu o soldado Mário, os “comandos”, nomeadamente o seu amor devoto à pátria que defendem, um grande sentido de responsabilidade, carácter, coragem, lealdade, obediência e determinação no cumprimento das suas missões, à custa da própria vida se necessário for. A sessão foi encerrada com o grito de guerra desta tropa de elite, repetido várias vezes pelos ex-combatentes presentes - Mama Sume - em português “aqui estamos prontos para o sacrifício”.
Pela minha parte quero aqui felicitar todos quantos contribuíram para que este acto de uma mais que justa homenagem tivesse sido possível, muito em especial à Comissão de Combatentes do Ultramar
do Concelho de Caminha e à Junta de Freguesia de Vilar de Mouros. Não posso, no entanto, deixar também de referir, por dever de justiça e amor à verdade, que todo o processo administrativo que conduziu à atribuição do nome “Soldado Mário Rocha” a este caminho foi iniciado e concluído, a pedido da Comissão de Combatentes do Ultramar do concelho de Caminha, pelo executivo anterior da Junta.
Em 2006 foi elaborada e enviada ao município, depois de apreciação e concordância unânime em Assembleia de Freguesia, a respectiva proposta de alteração toponímica. Ora, só em 2009 e após repetidas insistências, já muito em cima do período eleitoral autárquico que se
avizinhava, chegou a indispensável autorização. Assim, não houve condições para organizar uma cerimónia com o mínimo de dignidade que o acto justificava, o que fez com que esse processo transitasse para o mandato seguinte.
Esclarecido este ponto e já que não me é possível dirigir ao soldado Mário Maciel Rocha (antes fosse…) resta-me uma palavra final para a sua família, na pessoa do único irmão ainda vivo, o António Rocha. António, o teu irmão teve uma homenagem merecida, ficará para a história como um herói que morreu em combate, na defesa dos valores em que acreditava, destacando-se, de entre estes, o amor
à sua pátria. Isso deve ser um motivo de orgulho e de satisfação para ti, quero crer, e é justo que assim seja. Porém, nem consigo sequer imaginar, porque estas situações só as vive quem as sofre na pele, a tua dor e a de todos os teus quando soubestes da morte de este ente querido, aos 22 anos de idade, numa terra distante, numa guerra, sabe-se hoje e já alguns o diziam na altura, desnecessária e condenada ao insucesso.
Só que o Mário e a esmagadora maioria dos que eram enviados para a frente de combate estavam convencidos de que lutavam por uma causa justa e de que a vitória era possível. Daí que o seu esforço, o seu mérito, a sua valentia e abnegação justifiquem, exijam mesmo, o nosso maior respeito e consideração mas…quanto não darias tu por tê-lo hoje ao teu lado? É que, não só ele como muitos milhares que
perderam a vida numa guerra que durou treze longos anos e destroçou tantas famílias portuguesas podiam ainda estar vivos não fora a teimosia e a cegueira política dos governantes de então. Que ao menos o sacrifício destes valentes possa servir de exemplo para o futuro!
Um forte abraço de solidariedade, caro António Rocha