Lestos e implacáveis na crítica aos outros, mas de grande generosidade quando se trata de desculpar erros próprios. É o típico portuguesinho…felizmente com muitas e boas excepções.
Há dias, quando percorria a Estrada Nacional 301, entre Vilar de Mouros e Covas, ao passar na ponte sobre o rego de S.João, reparei no quadro que as fotografias documentam e pensei cá com os meus botões:
1 - ora aqui está um excelente exemplo do grau de civismo de alguns dos nossos queridos conterrâneos e compatriotas, neste caso, tudo indica, de um caçador;
2 – quem praticou este acto, muito provavelmente, é um dos que está sempre a acusar de tudo e mais alguma coisa o governo, os autarcas, os professores, os serviços de saúde, a justiça, os vizinhos, etc , etc. Até posso estar enganado porque nem imagino quem tenha sido, nem quero saber, mas a experiência de vida tem-me ensinado que é assim mesmo.
Trata-se, como me parece evidente, da experimentação de um ou mais cartuchos de arma de caça, em termos de capacidade de perfuração e amplitude de abertura do disparo. Tanto quanto sei (já fui, há muitos anos atrás, caçador) acho que a arma e os cartuchos ficaram aprovados em ambos os parâmetros, com distinção: a chapa metálica, de razoável espessura, foi atravessada em vários pontos e a dispersão/concentração do chumbo (se foi só um tiro e dependendo da distância) também parece boa.
Ficou demonstrado que o “desportista”, provavelmente de caça grossa, já que só zagalotes usados para este tipo de caça conseguem fazer perfurações como as que são visíveis, está de parabéns, pois tem bom equipamento.
Já não posso dizer o mesmo, infelizmente, em relação ao funcionamento da sua cabeça. Pode ter-se tratado apenas de um momento infeliz (às vezes as pessoas “passam-se”) mas que há ali qualquer coisa que não regula muito bem, há. Convenhamos que o local e o alvo foram muito mal escolhidos.!...
A "Estradas de Portugal”, que é quem coloca estes sinais, pode não ser e, na minha opinião, não é, uma entidade propriamente exemplar nos comportamentos e decisões que vem tomando em relação aos interesses das populações que a sustenta. Um bom exemplo do que digo aconteceu aquando da construção da A28/IC1, em que , como dona da obra, tinha a obrigação de exigir que a Euroscut optasse por soluções menos impactantes em termos ambientais e não o fez. A própria EN 301, sobretudo entre Vilar de Mouros e Covas, mas também mais além, encontra-se num estado de autêntico abandono, com valetas (será que existem?) entulhadas, vegetação selvagem a invadir o piso, deficiente sinalização, etc, etc, tudo isto numa Estrada Nacional estreitíssima, cheia de curvas, serpenteando e acompanhando, quase na totalidade, o Rio Coura, com precipícios de muitos metros de altura e a inexistência ou ineficácia de barreiras de protecção em quase toda a sua extensão, o que já fez com que tivessem aí ocorrido acidentes de viação gravíssimos, com mortes a lamentar.
Pelo que se ouve e lê na comunicação social a “Estradas de Portugal” está endividada até ao pescoço e é esse um dos motivos pelos quais nos querem obrigar a pagar portagens nas SCUT. Duvido é que a crise afecte os “salários” e as mordomias dos seus mais importantes gestores, mas isso é outro capítulo...da mesma história. De qualquer forma, nada justifica que andemos a “matar”, a tiro, as placas que essa empresa coloca, que não têm culpa nenhuma e, no fundo, somos nós que as pagamos.
O país atravessa sérias dificuldades, de ordem financeira sim, mas também e sobretudo, na minha opinião, de falta de valores, de educação, de respeito de uns pelos outros, de solidariedade, de civismo e de cidadania. Ora, se todos fizermos uma “forcinha” talvez não seja assim tão difícil sair do buraco. Seremos capazes?